"Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que vêem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os vêem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam."

sábado, 3 de março de 2012

Quanto mais quente melhor [Alice e Ulisses]




- Quando é que você vem ficar comigo?
- Amanhã agente conversa.
- Me dá o número do telefone.
- Você tem caneta?
- Não
- Então não adianta, do jeito que está, vai esquecer. Depois te procuro.
- Não, pode dar. Não vou esquecer nada.
Ela deu:
- Está bem, liga quando passar tudo. Se desta vez você não me apagar da cabeça, se você pensar e ainda quiser.
- Amanhã?
- Amanhã.
Vinte minutos depois, ela ainda começando a dormir, o telefone tocou:
- São quase cinco horas, já é amanhã. Já pensei tudo o que tinha que pensar. Eu quero. Vem ficar comigo!
- Amanhã é quando a gente acorda depois de dormir. Vai dormir.
Às sete meia, o telefone tocou outra vez:
- Te acordei?
- Acordou, mas não faz mal. Eu durmo de novo.
- Se acordou é porque dormiu, então já é amanhã....Vem ficar comigo?
[...]


“quanto mais quente melhor”

Deus do céu, porra, estava fodido. Uma mulher que punha ele nesse estado, deixava de garganta e olho ardendo dessa maneira, tinha a voz mais quente que ele já ouvira, andava como uma égua puro-sangue, tinha uma conversa que todo mundo ficava em volta querendo ouvir e aind apor cima conhecia cinema daquele jeito....Ainda bem que não era Vasco, mas a essa altura não ia fazer nenhuma diferença.

[...]

Tinha passado o tempo todo, desde que se despediu dela, pensando na hora em que se encontrassem de novo. Estava louco para ir para cama com ela e podia apostar que ela já estava molhada. Mas de repente deu um medão e ficou querendo encompridar o papo. Estava se sentindo ameaçado, sabia que se não levantasse e sumisse correndo não ia conseguir ficar mais livre. Ela ia tomar conta dele, morar no sangue, tremer nos nervos. Não ia dar para manter no nível de uma transinha esportiva.

[...]

Primeiro, os dois ficaram imóveis um tanto distantes, no meio do corredorzinho em frente a porta do banheiro. Depois tentaram disfarçar. Ela se virou e andou. Ele, inaugurando um rito que intimamente Alice continuou sempre a exigir em vão dos outros homens, foi até a janela e verificou se estava trancada, como se no sétimo andar isso tivesse qualquer importância. Sentaram-se na cama, um de cada lado. Sem uma palavra. Sem parar de olhar um para o outro. Tiraram os sapatos. Deitaram. Sem se tocar. Como se fosse mais uma dança, um ritual de acasalamento visto em um documentário sobre bichos. O tempo parado.
De repente, ela percebeu que tinha piscado e se deu conta do hipnotismo do momento. Mas não desviou os olhos. Percebeu nele também uma consciência de situação, no olhar firme preso no meio do sorriso dela, nas nesgas dos dentes que sua pele ia conhecer e amar. A certeza do desejo tão forte como o dele. Tão forte que nem dava pra chegar mais perto. Se encostasse quebrava, partia em pedaços....

Lipe...[Alice e Ulisses – Ana Maria Machado....Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.]